Foi ao ar neste sábado uma entrevista com Geraldo Vandré, a primeira após muitas décadas, pelas mãos do sempre ótimo Geneton Moraes Neto:
Não me parece que ele esteja pancada das ideias, mas que ainda continuo crendo que há algo muito obscuro envolvendo o mistério. Há o tal depoimento em Brasília que ele foi forçado a gravar, a tal ligação com a Aeronáutica. Em todo caso, dá para ver no Vandré de hoje algumas coisas que ficaram inalteradas, como a postura diplomática que teve no festival e a que tem agora.
Infelizmente o VT do tal depoimento em Brasília está desaparecido e seria pra lá de interessante o termos de volta justamente para termos mais dados a respeito de tudo aquilo que ocorreu com ele. Outros dados a respeito disso, só teremos mesmo no dia em que os arquivos da ditadura forem abertos. Diz Vandré que nunca foi torturado, ainda que ele próprio tenha admitido que andou na corda bamba como outros tantos perseguidos. Fica também uma impressão de que ele se assustou com o próprio estrelato e pretendia continuar sendo aquele que tocava em barzinho, talvez por conta da maior proximidade com o público.
Reclama ele hoje de que o Brasil ao qual voltou estava massificado e que a cultura brasileira se perdeu. Tudo bem que nos tempos atuais de internet e a quebra do poder das gravadoras, em parte voltamos a ter aquele ambiente dos grandes sucessos mais restritos (ontem mesmo estive em um show de banda que muito sucesso faz em São Paulo, mas que em outras regiões talvez as pessoas nunca tenham visto mais gorda ou mais magra). Podemos até ver algum paralelo entre aquele Brasil no qual Vandré vivia (vou aqui convencionar o período democrático entre 1946 e 1964, justamente por conta de serem anos efervescentes em vários aspectos da nação) e aquele onde hoje ele diz-se um exilado:
1) Estamos em uma época de crescimento não só econômico como voltamos a ter nossa característica de ser país essencialmente de ascensão social), como foi aquele Brasil de outrora (algo que posso testemunhar pela trajetória de minha família e que outros aqui também podem fazer o mesmo);
2) Vozes outrora não ouvidas acabaram o sendo e ganharam espaço (claro que hoje bem mais do que naqueles tempos, até por conta desta rede em que me comunico), não só no campo artístico como em outros da vida normal das pessoas.
Claro que há diferenças, como a atual maior regionalização que vivemos (Nordeste e Centro-Oeste que o digam) hoje em dia, mas ainda assim é Brasil parecido com o de Vandré. Ainda assim, é possível que o cantor tenha tomado um susto com a dimensão que ele tomou e esteja fugindo disso tudo.